Cá estamos nós, mais uma vez passando por uma fase muito delicada dessa pandemia. Não vim discutir as medidas, em si. Não há o que fazer sobre isso. Só quero falar sobre o assunto.
De um lado, é urgente a necessidade de diminuir a disseminação desse vírus, o aumento estrondoso do número de infectados, do número de óbitos, da escassez de leitos hospitalares.
De outro lado, as pessoas precisam – não por capricho, não por hobby, não por diversão, mas por NECESSIDADE – sair para trabalhar.
Não dá pra ignorar que tem uma parcela gigantesca da população que depende do trabalho diário, que não tem empregador, FGTS, Seguro Desemprego. É o pequeno empreendedor que precisa arcar com o pagamento do salário do seu funcionário, precisa pagar os impostos, precisa honrar uma série de compromissos financeiros pra manter o seu negócio de pé, e é preciso lembrar que o funcionário do pequeno empreendedor também depende dele para sustentar a sua casa.
Se esse cara quebra, ele não quebra sozinho.
O seu sustento vem do seu negócio, da sua pequena empresa ou da sua atividade autônoma.
Como você diz pra um arrimo de família, que o ganha pão dele não é essencial?
Isso é tão cruel. Como você diz para uma família, que para o governo, as necessidades básicas deles – comida, aluguel, água, energia – estão sendo colocadas de lado em nome do controle da doença?
Não é uma família ou duas. Não são exceções. É um numero gigantesco de famílias que dependem do trabalho diário para ter o que comer.
E por outro lado, a pandemia tá aí. Os números de óbitos só aumenta, as vagas em UTI estão no fim. A necessidade de fazer alguma coisa é urgente. Não dá pra fechar os olhos pra isso. Por mais sofrido que seja.
Acredito que todo mundo aqui já perdeu alguém pra essa doença. Parente próximo, amigo, pai de amigo, conhecido do bairro, da igreja, e por aí vai.
Esse vírus não está longe de nós. Por mais que você não tenha sido infectado, ou que tenha sido assintomático. Não dá pra diminuir o problema porque você pegou uma versão mais branda da doença.
Entende como isso é pesado?
Como tem duas forças absurdamente poderosas entrando em conflito direto? O sustento das famílias versus o controle da pandemia e a capacidade do sistema de saúde.
Na resolução de conflitos, você precisa escolher uma força dominante. Por mais que elas sejam equivalentes. Isto porque a coexistência não é possível.
Pelo que se sabe até agora, não é possível diminuir a taxa de contágio e de mortes sem restrições. E não é possível fazer restrição com comércio aberto, com bares e casas de show funcionando. É impossível que a disseminação seja controlada se a aglomeração de pessoas não for evitada. E fechar o comércio é o jeito que encontraram de fazer isso.
Agora, também não é possível o trabalhador colocar comida dentro de casa sem poder abrir o seu negócio, sem poder sair pra trabalhar. E essas famílias são parte significante da sociedade, e, desta forma, também são fatores a serem levados em consideração nessa balança. Porque essa necessidade também deveria ser de interesse público.
Auxílio emergencial? Faz-me rir.
Essas duas forças estão em choque. Não existe resposta fácil pra isso. Não existe.
Não estou aqui para ser contra ou a favor, provocar brigas de interesses, suscitar teorias da conspiração. Nós somos vulneráveis, nós somos os mais prejudicados.
Se você tem reserva financeira para se manter durante alguns meses, você está à frente de uns 99% da população. Você também está na tempestade, mas num barco muito melhor.
É só uma reflexão. E daquelas difíceis, em que você acaba entrando num beco sem saída.
Fiquem bem. Tenham esperança. Uma hora isso vai passar.
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